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Channel: Être et Avoir no Canadá
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Nasce uma mãe

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Logo que a Clara nasceu, o namorado de uma prima, que é estudante de medicina, me disse que os professores dele costumam dizer: "sempre que nasce uma criança, nasce uma mãe". Gostei muito dessa frase e, baseando-me nela, vou contar como tem sido a minha vida desde o meu nascimento, há dois meses. O nascimento da mãe-Daniela.

A vontade de ser mãe sempre foi grande, mas engraçado que quando engravidei, junto com a vontade nasceu um medo!! Uma insegurança... um sentimento de: "eu?!! Mãe?!!" Durante a gravidez esse medo sumiu e eu curti bem cada momento das transformações do meu corpo! Estava adorando ver minha barriga crescer, e graças a Deus tive uma gravidez tranquila (apesar do probleminha da placenta).

Acontece que o tempo passa rápido... e o dia foi se aproximando... e eu tinha que organizar as coisinhas do bebê... e... o medo voltou! Grande! Enorme!!! Beirando o pavor!!!!! As roupinhas estavam lá para eu lavar e organizar, mas eu adiava essa tarefa a cada dia que passava. Logo que eu engravidei e que minha mãe resolveu que viria ficar comigo, ela disse que me ajudaria com as roupas. Mas o que não estava nos planos era que o parto seria antecipado em 18 dias! Resultado: minha mãe, que já estava com passagens compradas, chegaria num sábado e o bebê nasceria na terça-feira seguinte! As roupas tinham que ser organizadas por mim. Não tive escapatória. Lavei tudo e sabe que me diverti?! Coloquei tudo bonitinho em saquinhos plásticos, tirei mil fotos, abria e fechava as gavetas da cômoda umas 50 vezes por dia! O medo sumiu de novo!! Maaaasss... com a chegada da minha mãe, eu me dei conta de que o dia realmente estava se aproximando. Não me esqueço uma cena: minha mãe mexendo nas coisas do bebê, na véspera do parto, e eu petrificada, só olhando. De repente desabei a chorar: "eu não vou conseguiiiirrr!!!! Vou ter uma criança totalmente dependente de mim!! E agora?!!!"

Agora é hora de ir: car seat, mala do baby, mala da mãe... Vamos pro hospital! Terça-feira, 2 de agosto, por volta de 1 da tarde. Eu estava em jejum desde a meia-noite da segunda-feira.

A vantagem de ter tido que fazer cesárea foi esta: hora marcada, sem sustos, nem correria. A desvantagem: fome!!
Fizemos praticamente uma festa no hospital. Além de mim, da minha mãe e do Pedro, tinha mais 6 pessoas lá com a gente, na sala de espera. Nossos fiéis escudeiros. Amigos de todas as horas. Nossa família canadense (brasileira).

Fui informada de que a médica chegaria por volta das 4h30 para a cirurgia. Lá pelas 3, me disseram que ela se atrasaria um pouco, mas que até umas 5h30 ela já estaria no hospital. Às 4 horas eu pedi para me colocarem no soro, porque a sede era grande (a fome, a essas alturas, já tinha até passado!). O tempo foi passando e a ansiedade era geral. Graças à tecnologia e ao meu querido iPhone, fiquei em contato com minha irmã e irmão, várias amigas (do Brasil e daqui) e praticamente todas as minhas primas, que fizeram uma "sala de espera virtual" no Facebook. Bom... quando eram quase 7 da noite a médica apareceu, e ainda teve a coragem de fazer uma piadinha: "vamos deixar a cesárea pra amanhã?" ahamm!!!

Chegou a hora! Fui andando para a sala de cirurgia, não sem antes dar um beijo na minha mãe e amigas. O Pedro foi comigo, mas, antes de deixarem ele entrar entregaram uma roupa verdinha para ele vestir.

A sala de cirurgia me lembrou o laboratório da minha antiga escola. Fria... paredes de azulejo... balcões, pias... Me pediram para sentar na cama estreita e várias pessoas vieram se apresentar. Todas de touca. Todas iguais. Todas sorridentes... menos eu! Eu estava era muito tensa!! Perguntei pelo Pedro, e falaram que ele entraria quando eu estivesse pronta.

Chegou a hora de tomar a anestesia. Não que tenha doído, mas a sensação da agulha entrando nas costas é bem estranha. Lembro que soltei um "ai..." e a enfermeira que estava na minha frente pediu que eu abaixasse a cabeça. Ela estava me "abraçando". E esse é o único rosto - dentre todos os outros que estavam em volta de mim - do qual eu me lembro.

Deitei na cama, com a ajuda de (talvez) umas três pessoas. Braços abertos... soro, aparelho monitorando pressão e coração... Perguntei, mais uma vez, pelo Pedro. A resposta foi a mesma. Comecei a rezar. (Agora preciso fazer um parênteses... alguns dias antes, vi pela internet, a propaganda da Nissan, em que aparecem os "pôneis malditos". E juro - não é piada! - esses pôneis malditos me acompanharam num dos momentos mais importantes da minha vida! Era eu começar um "Pai Nosso... pôneis malditos, pôneis malditos...". Mudei pra "Ave Maria... pôneis malditos, pôneis...") Desisti de rezar. Reconheci a minha médica dentro de uma roupa verde + touca. Ela perguntou: "você está sentindo alguma coisa?" eu disse que não... e ela: "é que eu ainda não comecei a cortar!" Será que essa mulher tá fazendo piada de novo?!! Cadê o Pedro?! Dessa vez não fui em quem perguntou... ouvi alguém perguntar: "doutora, pode chamar o pai?"" e ela: "Ops... ele não está aqui?". Olhei para o lado. Lá estava o Pedro. De touca. Mais um rosto conhecido.

Não sei precisar quanto tempo depois de o Pedro ter chegado, mas foi super rápido: percebi uma movimentação, e a anestesista, que estava o tempo todo do meu lado, disse: "oh, she is so cute!" e eu, imediatamente: "she?!!" - ela: "she!!!". O Pedro: "it's a girl?!" ela: "oh, yeah!" eu: "it's a girl??!" (ninguém respondeu) eu: "é menina, amor?!" hahaha (não que eu me lembre desses diálogos! Está tudo registrado no video que o Pedro gravou). A alegria de ter tido uma menina era tão grande que eu não acreditava! A Clara nasceu!! A minha Clarinha!!!

Nasceu uma mãe. Nasceu um pai. Nasceram avós e avô corujas e tios orgulhosos. Nasceu uma bisavó (a outra já é bisa há muito tempo!) Nasceram tias-bisas, tias e tios-avós, primas e primos-tios. Nasceram até avós postiços, mas não menos amorosos. Nasceu a pessoa mais importante da minha vida. Nasceu a minha filha: Clara Assunção Tuccori.

... to be continued

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